Houve um tempo em que nossa famigerada Capcom era conhecida como "Fazemos Qualquer Negócio" e era menos mercenária perdulária e ainda não tinha se prostituído se vendido ao sistema capitalista opressor regente na situação geopolítica atual (ufa!). Nesse saudoso tempo que a japaiada insiste em esquecer, tivemos beat’em ups no mínimo memoráveis, envolvendo pancadaria urbana (Final Fight), e aquela putaria metafísica chamada Cadillacs & Dinosaurs, que já resenhei por aqui. Além de clones barrigudos do He-Man (Magic Sword), fantasia medieval rpgística (King of Dragons e Dungeons & Dragons) e até uma ficção científica ridículas estrleando bichões do cinema (Alien vs Predator). Nesse ritmo de games supostamente fodásticos, tava na cara que ia chegar uma hora que a inspiração da Capcom iria pro ralo.
E chegou! Mas a produtora dos Lutadores de Rua não ia deixar seus programadores à toa. Aquele bando de nerd com conhecimento em microcirscuitos fechados e programação lógica precisariam de uma ocupação, já que namorada é que ele snão tinham mesmo. Depois de muita chibatada no lombo, tortura chinesa, agulhas debaixo das unhas, choques nas partes e poesias concretas declamadas com pompa, eis que os programadores encontraram ideias prum novo jogo de porrada generalizada, vazia e sem sentido, como todo gamer amava naquela época. O tema seria o futuro, com toques de tecnologia de ponta (?) e ficção científica, o que abriria brecha para muitas viagens na maionese liberdades artísticas. Resgatando um velho personagem que aparecia nas capas dos jogos antigos do Nintendinho (o tal do
Capitão Commando, um militar marrento que dava desafios aos jogadores, vai daí o nome da nossa amaldiçoada CapCom). Se você ainda não fez o link óbvio entre "CAPtain COMando e CAPCOM, cai fora do meu blog. É sério. Você não merece
isso aqui.).
O que rolou foi que os desenvolvedores pegaram esse pesonagenzinho picareta e lhe deram uma nova roupagem (hahaha!), lançando enfim o game daquele personagem sem graça que aparecia nas caixas das fitas do Megaman. Alguém mais ai diz que se lembra desse cara, ou eu vou me sentir muito, muito muito velho.
Eis que em 1991 fomos brindados no mundo todo pelos nossos queridos piratas contrabandistas e ladrões de carga com aquele arcade bizarro e colorido, com fases mais esdrúxulas ainda. E é claro, lançadas as versões para consoles caseiros, mais precisamente o SNES. Que foi o que eu mais joguei. Na real, eu nem sabia que havia sido lançado primeiro em Arcade até fazer as pesquisas dessa matéria. Eu joguei mesmo esse game na casa do meu amigo Jessé, há uns... bem, há uns... não interessa quantos anos fazem. Nessa patifaria de game, temos estrelando um herói de óculos escuros, um ninja doidão, uma múmia molenga e um nenezinho que pilotava um robô. Eu vou repetir, para você não precisar voltar achando que leu errado: Um dos personagens desse game é um bebê pilotando um robô. Como ele faz isso? Porque ele faz isso? porque ele não está em casa vendo Discovery Kids? Onde estão seus pais? Onde ele aprendeu a pilotar uma engenhosa máquina de guerra enquanto eu custo a manter em linha reta a Honda Bis da minha namorada?
Mistérios insondáveis da mente humana, é o que digo.
Continuando minha resenha, eu aviso que estamos de novo na pacata cidade de Metro City, que já foi governada pelo prefeito Haggar e seu mundaréu de maracutaias. É o que se deve esperar de uma cidade governada por um sujeito que parece degustar chouriço num copo sujo perto da prefeitura. Então, esse é o mesmo cenário das porradas e porradas de Final Fight, senhor Velho Noob? Sim, mas agora estamos no futuro, mais precisamente no ano de 2026. Porém, se você imaginava que Metro City teria futuro, esqueça. Nessa data, o crime mostrou que verdadeiramente compensa e a cidade estava uma maravilha de se ver, com roubos, assaltos, sequestros, massacres, chacinas, atentados a bomba, comércio saqueado, azeitona e pipoco pra tudo que é lado, presuntos estropiados em cada esquina e tudo mais. A galera tocou o foda-se, estuprou as casas e saquearam as virgens. (oh, wait...)
O principal grupo criminoso da época, formado por uma gangue interminável de irmãos gêmeos que nunca morrem (e uns samurais de terracota, fazendo o papel dos Andore da parada) é chefiado pelo cientista e mafioso Scumocide (que os comedores de sushi chamam pelo singelo nome de Genocide). Desnecessário dizer que o fulano é pirado, doido, maluco, sanguinário, megalomaníaco e quer, adivinhe se puder, dominar o mundo. Pior que isso, Scumocide adora fazer experiência genéticas de vez em sempre e criar mutantes, com efeitos mais modafóca que a novela homônima da Record.. O cara tem tanto parafuso solto que sua base voadora, que tem a sua cara, paira sobre os céus poluídos de Metro City. Viu o que dá votar no Haggar? Na próxima vez, vote no Tiririca…
Aliás, de onde foi que os produtores capcomianos tiraram esse nomezinho escroto de Scumocide, hein? Com tanto nome bonito por aí, como José, João, Antônio, Sebastião, Augusto, Raimundo Nonato, Cléverson, Wanderklaydisson, Uéverson, Sephiroth, etc, os caras batizam o vilão de seu novo beat’em up com um cacareco desses?
Então, resumindo pra encurtar, a porra tava essa zona lá em Metro City.
Mas os incríveis heróis do Team Commando (os quatro que você irá selecionar) não vão deixar barato essa palhaçada toda. Batendo o pau na mesa e gritando de dor em seguida, nossos quatro destemidos paladinos da lei, da justiça, da paz, da moral e dos bons costumes estão lá prontos para defender a tradição, a família e a propriedade. Enfie a ficha (ui!) com jeito e bastante carinho e escolha um dos Commandos:
Capitão Commando: o herói que dá título ao jogo e que todo mundo vai se estapear no fliperama pra jogar com ele! De nariz empinado, cabelo loiro topetudo de gel e óculos de camelô, o cara é o xerife da galera e também o personagem mais equilibrado (leia-se: não cheira e nem fede) da turma. No seu ataque especial, ele sua suas luvas do poder pra soltar uma descarga elétrica no chão que faz os inimigos se mijarem de choque. Também solta fogo pelos punhos. (como se chamava aquele desenho antigo do moleque que tinha uma luva de baseball mágica que ele batia três vezes nela e fazia um pedido? Alguém se lembra??)
Ginzu the Ninja: não poderia faltar um ninja, né? Pegando um papel recusado pelo nosso estimado Ryu Hayabusa, Ginzu é o braço direito do Capitão e não deixa barato: mais forte que uma capivara hidrofóbica, mais rápido que amante saltando a janela do terceiro andar e mais inteligente que uma maritaca palestrante da Universal, ele é de longe o melhor personagem do jogo. E ainda decepa os inimigos em pedacinhos em grande estilo mortalkombatiano, pra chocar a família brasileira! No seu ataque especial ele usa as suas incríveis bombas de fumaça para contaminar os pulmões alheios. É meio idiota, se você pensar bem, mas very effective.
Mack the Knife: a porção feminina do game, um doce perfume de bacalhau no meio dos cuecas! Lógico que ninguém no flíper vai querer jogar com ela, a custo de ser zoado pro resto da vida! Mack é uma múmia alienígena (SANGUE DE SHAO KAHN TEM PODER!) que luta com facas e, apesar de meio fracote, é rápida e boa pra quem curte esmagar botões e elaborar estratégias frenéticas contra os chefões. Tanto que seu ataque especial é uma giratória sem graça com os punhais. NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: Mack roubou o título duma canção de Louis Armstrong e não pagou um mísero centavo de direitos autorais. Vai pensando no assunto aê, noob.
Baby Head: enfim, a massa pensante no meio desses brutamontes porradeiros. Baby é um bebê (Ah vá) birrento, chorão e fedido que tem uma inteligência incrível! E que ainda por cima pilota um mecha forte pra caramba! Que raio de personagem é esse? Onde o pessoal da Capcom estava com a cabeça enfiada pra compor algo assim? Que tipo de psicotrópico precisa estar bombando na cabeça de alguém pra colocar num jogo desse naipe um bebê controlando um robô de aço que mais parece personagem de alguma HQ perdida do Máskara?? Assim como os Haggares da vida, é o personagem pesadão que arranca metade da barra de life com uma bofetada só. O preferido dos noobs que perdem duas vidas já na primeira fase! No seu especial ele solta uns mísseis e detona umas granadas. Porque? porque ele é a PORRA DE UM BEBÊ CONTROLANDO UM MECHA, CARALHO!
(pausa para se recuperar de uma semi-síncope)
elenco... hmm... “exótico”... que enfrentará os mutantes, gordões atropeladores, piriguetes elétricas, maloqueiros de canivete, gordinhos cuspidores de fogo e neanderthais (!!) da gangue do Tio Scumocide. Achou bizarro o naipe dos inimigos, estupefatos leitores? Então espere por samurais vivos de barro, ninjas fantasmagóricos, robôs que lutam kung-fu e travestis frankensteins em meio à horda tragicômica que compõe o staff dessa cópia vagabunda e picareta de um grande jogo. Captain Commando é um dos games mais aleatórios, viajados e de enredo sem noção que existem. E acredite: VAI FICAR PIOR…
No mais, e ao cabo das coisas, Captain Commando é um beat’em up tradicional, com todos os clichês dos gênero revistos e ampliados: Um botão de soco e outro de pulo, voadoras, ataque especial que tira sua energia ao apertar os dois, caixas e tambores com itens, comidas como carne assada e frutas pra aumentar seu life. Aliás, é o único jogo que tem uma quantidade absurdas de frutas que recuperam energia, provando que os videogames são ótimos aliados para uma vida sedentária saudável.
Temos também as armas que caem pelo caminho e que nesse game estão simplesmente CABULOSAS: além de revólveres invocados e metrancas, tem lança-mísseis, lança-chamas, estrelas ninja e…rufem os tambores: ROBOZÕES GIGANTES! No estilo dos caramujos e lagartões do Golden Axe. Pensa que é pouca porcaria? Os programadores se reuniram e pensaram: Como nós vamos fazer os jogadores fãns de beat's terem orgasmos múltiplos na frente da tv? E o resultado foi esse arsenal espalhado pelo mundo todo, como se cada caixa de sapato na cidade escondesse uma bazooka.
Só que alegria de pobre dura pouco e essas armas invocadas, apesar de tirarem muita energia, duram muito menos que nos outros games, uns dois ou três disparos e já era! Pelo menos, não tem aquela sacanagem de perder a arma sempre que se passa duma zona pra outra (do verbo "faltou memória RAM aqui, senhores").
Defeitos à parte, vamos à aventura! Como sempre, teremos de atravessar amplas áreas da Metro City de 2026 até chegar ao covil do El Chefón! Começaremos pela cidade detonada onde os soldados do vilão invadiram o banco; passaremos pelo museu dos dinossauros (pra quem acha que não houve homenagem aqui) que tem um subterrâneo cheio de homens das cavernas, depois tem a vila oriental dos ninjas ("Vila Soviética dos ninjas" é que seria improvável). Sentiu o drama? É aqui que o game realmente se transforma numa palhaçada (e esse circo é apenas a fachada prum laboratório cheio de monstros). Cansado? Vá surfar um bocadinho no cais do porto e matar uns inimigos na fase de bônus , depois faça uma visita ao aquário da cidade (que também é um laboratório de fazer mutantes) e então aí a coisa fica AFRO-DESCENDENTE!! Sem chances de escapatória, só lhe resta sair no braço com a vilãozada na base subterrânea da gangue e pegar uma carona no ônibus espacial até Callisto (uma das luas de Júpiter, onde o meliante se esconde. Porque você não foi direto pra lá? não faz pergunta difícil), onde, num restaurante de luxo (wtf?), você enfim enfrentará o foderengo Scumocide, com capa de super-herói, corpanzil de deus grego, chifres de capeta e um disco de vinil servindo de auréola! É essa drag queen aí que está infernizando sua vida! Dorme com essa!
A dificuldade do game começa muito de boa , mas fica cabeluda lá depois do estágio do circo! Os chefões, embora não tenham lá muito energia (como todos os inimigos), são um primor de apelação: Tem o Shtrom da segunda fase que é um punk de cabelo espetado e roupa de mergulho que pula feito uma perereca que cheirou cocaína e atira dardos sem parar (e boa notícia: na fase do aquário você enfrentará DOIS dele!), o Monster da fase do circo que é um macacão verde de três olhos (ainda bem que eu não tenho que dizer isso em voz alta), tem o Doppel, que usa um controle remoto pra copiar o seu personagem (e também se divide em dois), o Blood que é um Rambo Evil…enfim, os chefões são bem mais criativos que em outros games, mas são apelões demais! Até pegar a estratégia deles já vai umas duas vidas, que o diga o sensei Yamato do terceiro estágio e seu hair style apoteótico!
Mas a pergunta que não quer calar é: Que diabos é aquele pianinho no fundo do cenário do Scumocide, hein? Que que ele vai tocar lá? Punheta? Bach? Mozart? Beethoven? Chopin? Zeca Pagodinho? Quero dizer, estamos na porra do espaço, não?
An-hã pra não render: O RESUMO e A CONCLUSÂO
O jogo do Capitão Commando é um feijão com arroz bem temperado, PF de boteco sem muito luxo e sem muita frescura, apenas com um bifão acebolado, um ovo frito e uma farofa pra dar um gosto. O game não traz praticamente nenhuma inovação pro gênero dos beat’em ups, mas compensa a FARTURA de originalidade pelos cenários absurdos e inesperados. Apesar de curtas, as fases surpreendem! E os inimigos, apesar das levas serem enormes, com uma crueldade oitobitsana (e sempre do mesmo inimigo! Ó o problema do processador lento!), são incrivelmente bizarros e carismáticos! Impossível não simpatizar com as piriguetes elétricas e os ninjas malucos!
Como quase sempre acontece com a Capcom "Vende Até a Mãe Pra Levantar Grana", Captain Commando ficou sem sequência. Foi só esse jogo de 1991, algumas adaptações pra outras plataformas, aparição em alguma coletânea e acabou-se o que era doce! Fora as participações especiais nos Marvel vs Capcom, claro! Uma pena, pois, por mais esquisito e doidão que fosse, a Capcom conseguiu dar vida e personalidade a um personagem chatonildo que só servia pra encher o saco!
Mas não tem tempo ruim! Pegue seu emulador de arcade ou seu cartucho de Super NES e mande ver nos cupinchas do Compadre Scumocide. Captain Commando é a prova viva de que um game não precisa ser épico, inovador e cheio de traquitanas pra ser legal! Na verdade, pra escrever isso eu REZEREI a coisa toda no emulador, e honestamente, me diverti bastante!
Curiosidades Curiosas:
- Captain Commando foi adaptado em 1995 pro Super Nintendo, num game simpático que é basicamente o que vimos no arcade, mas bem mais fácil e com regulagem de dificuldade mais amiga. Também foi adaptado pro PS1 com gráficos melhorados e figurou na coletânea Capcom Classics no PS2! Sequência que é bom nada, né?
- Por motivos de localização (leia-se: justificativa furada), os personagens da versão do SNES têm os nomes do jogo japonês: Mack se chama Jennet e Ginzu virou Sho!
- Aliás, os nomes da múmia e do ninja são verdadeiros trocadalhos do carilho: “Mack the Knife” é na verdade uma música do grande Louis Armstrong; e Ginzu faz referência àquela famosa faca, temida entre os maridos puladores de cerca.
- Nosso considerado Capitão é personagem jogável do Marvel vs Capcom 1 e 2! E seus brothers são personagens assistentes, daqueles que entram, dão uma porrada e saltam fora! O mais legal é o especial de Commando: ele agarra o facínora e vem Mack rodando as facas, depois Ginzu tacando bombas de fumaça e Baby metendo fogo. Pra terminar com um choque de milhões de volts, com direito a pose heroica no meio da tela! Cuidado pra não melar as cuecas ou calcinhas!
- Há um curioso item raro em Captain Commando, que é um busto dourado do prefeito Haggar! Se pego, ele te dá um milhão de pontos de lambuja! Mas te garanto que é mais fácil comprá-lo naquele Mercado Livre do que esbarrar com ele na Metro City do futuro!
- Há uma continuação espiritual psicografada pelo Chico Xavier pros arcades, que foi lançada apenas no Japão, mas que tem aquele pique do Team Commando: BATTLE CIRCUIT! Um fliperama frenético e doidivanas quanto o do Capitão, mas infelizmente sem estupros com tentáculos! Fazer o quê, não se pode ganhar todas! Confere aí o breguéte e me diz se é ou não é uma sandice:
E estamos esperando até hoje pelo Captain Commando 2, ouviu, D. Capcom? Tira a bunda da cadeira e vai lá programar o game, com mil carambolas!
E QUE PORRA DE BEBÊ É AQUELE, CACETE???
hmpf,
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