Hoje eu não tenho nenhum vídeo game em casa.
Porque infelizmente não disponho de tempo para sentar na frente da TV e ligar o
aparelho, aquele ritual todo. A minha vida hoje é bem atarefada e minha agenda
está mais apertada que jeans de funkeira. Trabalho, estudo, stand up, namorada,
amigos. Contrariando ao clichê do blogueiro eu tenho uma vida social agitada
até demais.
Por isso tenho um paraíso de diversão garantida no meu notebook. Tenho ali os mais improváveis jogos que puder imaginar, em ROMS separadas direitinho por pastas e catalogadas como se fossem os telefones das ex-namoradas e ficantes naquele caderninho negro que todo homem tem. Tudo com muito carinho, porque a emulação é a forma que tenho de exercer meu hobby e minha paixão, que são os jogos de vídeo game.
Principalmente, os jogos antigos, da geração que
mais me marcou: 8 e 16 bits. Podemos até pensar que na 32 bits eu estava presente, e estava mesmo, com meu Playstation
quadradão, que mal cabia no hack da sala. Na verdade, eu acompanhei bem de
perto até a geração do Nintendo 64. Depois disso eu perdi o fio da meada, as
coisas foram rápidas demais e eu já estava obrigado a ter um emprego e não
tinha mais tempo para jogatinas por noites à fio. E é claro, arrumei minha
primeira namorada, o que explica muita coisa.
Mas eu desviei o raciocínio aqui. Comecei a
escrever para falar sobre uma coisa que sempre fazia meus fins de semana
divertidos: Jogatinas madrugada adentro
e alugar jogos.
Bom, eram épocas mais difíceis, mas bem mais
divertidas. Pode parecer absurdo pra você ai que está lendo isso no seu
computador, acostumado a navegar enquanto baixa um filme para seu HD. Eu mesmo,
como já disse, tenho gigas e gigas de ROMS de games no meu PC. Sem contar meus
filmes e séries, que não podem faltar, tudo na base do “deixar ali baixando enquanto faço outras coisas”.
Porém,
amigo molecote imberbe, nem sempre tudo foi tão EASY. Na verdade, era very very hard.
Como
já contei em outra matéria, eu tinha / tenho um amigo de infância , Ygor, que
foi um de meus maiores parceiros de games até hoje. E conheci ele por causa do
Master System que eu tinha na época. Naquela época era assim: Voce precisa sair
de casa pra conseguir novos jogos, ou “fitas”. Aqueles cartuchos eram como
troféus, e devido à idade avançada do Master System naquela época, era ainda
mais raro encontrar uma fita para o console da Sega. Tínhamos duas opções: Ou
se conhecia alguém e a coisa funcionava na base do “te empresto meu Sonic, voce me empresta Moonwalker”, ou voce
alugava jogos nas disputadas “locadoras de video game”.
Deixe-me
explicar uma coisinha. Estávamos na metade dos 90, e era já a geração 16 bits.
Eu nasci em 87, entao minha infância se deu justamente na década do Tetra e dos
Mamonas Assassinas. Acontece que minha família não dispunha de muitos recursos
financeiros, e eu estava sempre um passo atrás na evolução dos consoles: Enquanto
os vizinhos ganhavam seus Super Nintendos e Mega Drives de Natal, naquele
dezembro de 96 o Papai Noel me trouxe um estiloso, cinza, fodástico e compacto Master
System III, com o Sonic: The Hedgehog
na memória. Jogo esse que foi meu único jogo até algum tempo depois, quando
conheci outros. Sim, haviam outros
meninos espalhados pelo globo que ainda não haviam
evoluído para os 16 bits. Até então, meu sonho era poder jogar todos aqueles
joguinhos que eram mostrados na parte de trás da caixa (risos).
Inônico é pensar
que HOJE EM DIA tenho condições de comprar os videogames mais modernos, mas não
tenho tempo de jogá-los.
Outra
coisa que ajudou bastante minha vida foram as LOCADORAS DE VIDEO GAME, que
abriram como uma febre em minhas cidade naquela época. Foi nessa época que
conheci o tal Ygor e seu cartucho do Indiana Jones. Um jogo que até hoje eu
tenho calafrios de pensar, devido à seu “time” para completar a fase. Era
frustrante perder toda hora não por haver morrido, mas porque a porcaria do
tempo acabou.
Mas
além dessa loucura divertida que era descobrir que um cara lá no bairro tal
tinha uns cartuchos de Master, e ir atrás dele, e fazer amizade, e trocar
jogos, e criar “clubinhos” e etc, havia agora a oportunidade de alugar um jogo, levar pra casa, se
trancar no quarto e passar a madrugada jogando. O Ygor e eu, mais alguns outros
vários moleques (para terror absoluto de minha mãe) fizemos isso diversas
vezes. Era muito divertido. Alugávamos um cartucho, sempre no fim de semana
(pra poder entregar só na segunda) e nossa missão era zerar o joguinho antes da
data de entrega. Para tanto iam-se madrugadas inteiras revezando o controle.
Nesse esquema, nós zeramos vários jogos épicos do console, como o Black Belt, Super Mônaco, After Burner e Alex kidd.
Até
que descobrimos o jogo que mudaria o rumo das coisas:
“Ys: The Vanished Omens”. (musiquinha
épica no fundo). Se voce ainda não sabe que jogo é esse, ou nunca ouviu falar
nisso, eu escrevi uma matéria
recentemente sobre ele.
Esse
jogo consumiu horas e horas de minha vida e de meu sono, consumiu nosso frágil
intelecto daquela época. Foi preciso alugarmos várias e várias vezes o cartucho
lá na LANTERNA MÁGICA (locadora que existia, a única com o jogo disponível, e
ficava do outro lado da cidade).
Mas
todo fim de semana, era a mesma coisa, o mesmo problema: Nós conseguíamos as
devidas permissões para um dormir na casa do outro, daí montávamos o acampamento
e providenciávamos nossas provisões (salgadinhos e refrigerante),
atravessávamos a cidade para a tal locadora e pagávamos a locação da fita até a
próxima segunda. Com nossa grana, fazíamos uma vaquinha pra isso. Era
engraçado, era sadio e divertido, tudo era uma aventura. Pegar o ônibus, alugar
a fita, voltar, comprar as provisões, conseguir autorizações dos pais pra
dormir fora de casa, etc ect etc.
Daí
chegava o grande momento, colocar a fita no console e desbravar aquele mundo
inóspito para mais uma madrugada de aventuras e jogatina.
MAS
CADÊ NOSSOS SAVES?
Uma
coisa muito comum em locadoras, é quando voce aluga um jogo mais longo, voce
salva o progresso na fita. Mas voce tem que devolver pra locadora. Daí o
próximo a alugar vai... adivinha.... gravar por cima ou apagar a merda do seu
SAVE!
Foi
assim umas tres semanas, tendo que reiniciar o game. Sério que devemos ter
jogado a primeira etapa do jogo umas 5 ou 6 vezes. Sabíamos tudo de cor e
salteado.
Foi
então que minha mente maquiavélica infanto-juvenil teve a mais sagaz, brilhante
e contraventora idéia que uma criança jamais teve na história:
DECIDIMOS TROCAR
OS CHIPS DOS CARTUCHOS E ROUBAR O YS PRA
GENTE.
Foi
ideia de criança, idéia de gerico, coisa de moleque. A intensão não era roubar,
tampouco cometer um crime. Foi a coisa mais inocente que já fiz em toda a minha
vida. Talvez a única, de fato.
E
antes que algum moralista venha me chatear dizendo que a blablablablablablablabla, eu vou dizer que eu não me arrependo nem
um pingo disso e eu tinha uns 15 anos mais ou menos.
Foi
mesmo uma idéia cretina e até hoje imagino a cara do moleque que alugou a fita
em seguida, colocou o cartucho no console e tcharããã....
TOM and JERRY!
HAHAHA.
Bons tempos.
Voce que baixa jogos da NET não faz a menor idéia do
que é ser feliz.